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As tecnologias e a abordagem interdisciplinar na Educação

As tecnologias e a abordagem interdisciplinar na Educação
Henrique Uyeda do Amaral
set. 1 - 6 min de leitura
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O advento das novas tecnologias da comunicação alteraram de maneira significativa a sociedade contemporânea. O atual momento é marcado por uma mudança de paradigma, que afeta o pensamento, a visão de mundo, os valores e até a forma de organização da sociedade.

A implementação de uma abordagem interdisciplinar na Educação é vista como necessária para adequar o processo de ensino aos desafios complexos da atualidade.

 Neste texto, faço uma reflexão teórica sobre a relação entre tecnologia, interdisciplinaridade e Educação, para reforçar a importância de uma nova abordagem no ensino. Estudei profundamente este tema durante a graduação em Educomunicação, que tem a interdisciplinaridade na sua essência.

No futuro, pretendo compartilhar algumas experiências como professor na prática de projetos interdisciplinares na escola. Pode ser interessante para indicar possíveis caminhos para a aplicação em sala de aula.

 

A mudança de paradigma do conhecimento

Desde o século XVII, o pensamento ocidental é condicionado pela lógica cartesiana, baseada nas relações de causa e efeito, predominante até os dias atuais. Este paradigma se sustenta basicamente sobre três pilares: Razão, Ordem e Separabilidade. No entanto, a própria ciência desenvolveu teorias contrárias à aceitação destes pilares, iniciando uma nova forma de pensamento, caracterizado pela visão e aceitação da complexidade.

Edgar Morin, principal estudioso do pensamento complexo, aponta para a necessidade da ciência articular os diversos conhecimentos específicos para resolver os problemas do mundo de maneira mais abrangente, que são complexos e se analisados por conhecimentos fragmentados levarão a conclusões erradas.

“A complexidade não compreende apenas quantidades de unidades e interações que desafiam as nossas possibilidades de cálculo; compreende também incertezas, indeterminações, fenômenos aleatórios. (…) A complexidade está portanto ligada a uma certa mistura de ordem e de desordem.” (MORIN, 2008, p.51).

O filósofo brasileiro Hilton Japiassu produziu diversos estudos sobre interdisciplinaridade e apresenta mesma visão:

“Na segunda metade do Século XX, surge e rapidamente se impõe a hiperespecialização, provocando a multiplicação indefinida de disciplinas e subdisciplinas cada vez mais focadas em reduzidos objetos de estudo. (…) As disciplinas se tornam fechadas e estanques, fontes de ciúme, glória, arrogância, poder e atitudes dogmáticas.” (JAPIASSU, 2006, p. 21).

Japiassu (1976) mostra a importância de trabalhar o conhecimento articulando as diversas áreas, a abordagem interdisciplinar. Na prática, o filósofo brasileiro propõe que haja maior interlocução entre especialistas das áreas do conhecimento, com o intuito de trocar informações relevantes para a realização de projetos.

 

Construção do conhecimento na cibercultura

O desenvolvimento das tecnologias digitais também resultou na formação da cibercultura e modificou o processo de construção do conhecimento e de acesso à informação.

A maior capacidade de comunicação entre indivíduos e a facilidade de acesso a conteúdos científicos, propiciam esta interlocução entre as diversas áreas do conhecimento, conectando especialistas de maneira direta ou por meio de publicação online de suas pesquisas.

As tecnologias intelectuais ampliam a capacidade do intelecto humano, as possibilidades de aprendizado e de experimentação. O desafio da construção do conhecimento na cibercultura é tratado pelo filósofo Pierre Lévy .

“Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos (…) a partir de agora devemos preferir a imagem em espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa posição singular e evolutiva” (LÉVY, 1999, p. 158).

Lévy mostra a tendência da formação educacional se expandir para o virtual, sem limitação do espaço físico das escolas e universidades, aproveitando-se de tecnologias digitais. Essas novas possibilidades podem contribuir para amenizar o problema da fragmentação de disciplinas, apontado por Morin e Japiassu, aproximando os indivíduos do pensamento complexo.

 

Interdisciplinaridade na Educação utilizando as tecnologias digitais

Na Educação, devido ao tradicionalismo presente no setor, estas mudanças ocorrem de maneira mais lenta, porém é mais do que necessário repensar alguns dos conceitos estruturais que sustentam o atual sistema educacional.

Um dos grandes problemas da educação apresentados por Morin (2008) e Japiassu (1976) é a excessiva fragmentação do conhecimento em áreas de estudo quase independentes do ponto de vista do ensino, porém com inegável relação entre si.

Adotar uma abordagem interdisciplinar na Educação permite desenvolver a visão de mundo de forma contextualizada, abrangente e completa. Para atingir tal objetivo, os processos educativos devem incorporar novos processos comunicativos.

É necessário aproveitar as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) para fortalecer a interação entre os sujeitos envolvidos na educação, criar ambientes interativos e colaborativos, ampliar as possibilidades de aprendizagem com a prática e facilitar o acesso a novas informações e conteúdos.

Apesar da maior presença das tecnologias digitais nas escolas, sua utilização está aquém do esperado e, quando ocorre, se dá de maneira alinhada ao sistema tradicional, sem modificá-lo e mantendo a fragmentação do conhecimento em áreas específicas.

O uso das tecnologias digitais por si só não é suficiente para resolver este problema. É necessário que sua utilização se dê com uma prática alinhada ao objetivo de fomentar o diálogo, criar relações horizontais, estabelecer o protagonismo do aluno, propiciar a colaboração e interatividade, tudo isso com uma abordagem social e de senso crítico.

 

Referências teóricas

  1. JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
  2. LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009. 
  3. MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Tradução de Dulce Matos. 5ª Edição. Lisboa: Instituto Piaget, 2008.

 

Este texto foi publicado originalmente no blog da Layers Education

 


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