Entre os profissionais da Educação, há um consenso de que o processo educativo deve ir além de conteúdo conceituais e armazenamento de informações por parte dos alunos. Por mais que o modelo tradicional (chamado de bancário por Paulo Freire) ainda seja predominante em algumas escolas, é inegável que existem outros aprendizados importantes além da teoria.
Autores e pensadores, no final do século passado, ampliaram a discussão sobre os múltiplos tipos de inteligência. Seguindo esta linha, o livro “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman foi pioneiro no estudo dos efeitos das emoções na aprendizagem. Trata da capacidade de trabalhar as emoções de maneira individual e coletiva, afetando também a inteligência cognitiva.
O conceito de inteligência emocional fundamenta o desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais, cada vez ganhando mais espaço e importância dentro dos processos pedagógicos. Neste texto, vou apresentar a educação socioemocional e indicar caminhos para a sua aplicação.
A educação socioemocional
O objetivo da educação socioemocional é desenvolver nos alunos a capacidade de lidar com as suas emoções, que sejam capazes de criar relações sociais positivas e tenham responsabilidade na resolução de problemas. A empatia, a criatividade e o pensamento crítico são algumas das habilidades trabalhadas, para permitir aos estudantes entenderem a si próprios e às outras pessoas.
No ambiente escolar, o desenvolvimento dessas habilidades deve ter a mesma importância do ensino dos conteúdos curriculares. Os benefícios são fortalecer a confiança, resiliência, organização e foco dos educandos, auxiliando na permanência escolar e na construção das relações interpessoais.
Os professores e gestores escolares também precisam aprender a lidar com suas emoções, reflexão nem sempre comum entre os adultos. A busca por materiais e formação sobre este tema cresceu bastante na última década. Esta mudança também pôde ser vista no texto da BNCC, criada em 2018.
O que diz a BNCC?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi criada em 2018 pelo MEC e implantada em 2020 nas escolas, como diretriz para os currículos das redes de ensino públicas e privadas. O documento estabelece como fundamentos pedagógicos o desenvolvimento de competências e a educação integral.
Assim, há a necessidade de trabalhar as competências com caráter socioemocional em sala de aula, como podemos encontrar claramente em três das 10 competências gerais da BNCC, são elas:
- 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
- 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
- 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Já a educação integral propõe uma educação voltada para o acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno do estudante na sua singularidade como indivíduo, promovendo no ambiente escolar o respeito às diferenças e diversidades, aliando o aspecto emocional e o cognitivo.
O cenário nacional da educação exige a atenção das escolas e educadores para as competências socioemocionais e a implantação da BNCC é o grande incentivo para que as mudanças necessárias sejam abraçadas.
O desenvolvimento de habilidades socioemocionais
No artigo “O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica”, a psicóloga Anita Abed fala sobre cinco grandes domínios em relação às habilidades socioemocionais, chamados “Big 5”.
- Abertura a experiências: estar disposto e interessado pelas experiências – curiosidade, imaginação, criatividade, prazer pelo aprender
- Conscienciosidade: ser organizado, esforçado e responsável pela própria aprendizagem – perseverança, autonomia, auto regulação, controle da impulsividade
- Extroversão: orientar os interesses e energia para o mundo exterior – autoconfiança, sociabilidade, entusiasmo
- Amabilidade-Cooperatividade: atuar em grupo de forma cooperativa e colaborativa – tolerância, simpatia, altruísmo
- Estabilidade emocional: demonstrar previsibilidade e consistência nas reações emocionais – autocontrole, calma, serenidade
(ABED, 2016)
Conhecer estes domínios das habilidades socioemocionais, permite aos professores refletirem sobre as suas práticas em sala de aula e servir de base teórica para planejar as atividades pedagógicas voltadas para o seu desenvolvimento.
É essencial o apoio das escolas e a dedicação do corpo docente para a formação nestes novos conceitos e nas formas de aplicá-los de maneira efetiva nas práticas educacionais. Assim, será possível atender às diretrizes da BNCC e, principalmente, formar indivíduos mais preparados para conviver em sociedade de maneira saudável e responsável.
Referências para aprofundamento
- ABED, Anita Lilian Zuppo. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica. Constr. psicopedag., São Paulo , v. 24, n. 25, p. 8-27, 2016 .
- Nova Escola: Como uma professora utilizou contos de fadas para desenvolver empatia. . Acesso em 15/03/2021
- Instituto Ayrton Senna: Competências Socioemocionais. Acesso em 15/03/2021
Este texto foi publicado originalmente no blog da Layers Education