Você já ouviu falar do Educom.Saúde-SP?
De acordo com matéria do site da Associação Brasileira de Profissionais e Pesquisadores em Educomunicação (ABPEducom), o projeto “propõe atividades formativas aos profissionais da saúde com o objetivo de fortalecer as práticas de ações e vigilância no controle de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, para a educação e promoção da saúde coletiva”. Ele é um empreendimento da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD/SES-SP), que conta com a assessoria técnica de professores do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA/USP e da ABPEducom.
Neste relato, vou tratar de um recorte dessa iniciativa, a assessoria à projetos educomunicativos em desenvolvimento, realizada no 2° semestre de 2020.
Paralelamente ao oferecimento do curso em EaD para formação dos profissionais da saúde, percebeu-se a necessidade de apoiar o planejamento e a execução dos projetos elaborados em 2019. Nesse contexto, fui convidada pela ABPEducom para integrar o grupo e oferecer essa parceria àquelas pessoas que já haviam terminado o curso, mas viam-se um tanto perdidas para implementar os projetos - especialmente no contexto da pandemia de Covid-19.
Para alguém acostumada com a sala de aula e com as demandas de educadora de tecnologias educacionais, integrar um projeto cuja área de interface com a Educomunicação era a Saúde foi um grande desafio.
Logo de início fui requisitada a desenhar um plano de ação que descrevesse o escopo de minha atuação. Foi quando percebi que atuaria com gestão da comunicação, aquela prática estudada na Licenciatura, mas até então pouco experimentada. Planejar, formar e alimentar redes de pessoas, fazer diagnósticos, buscar soluções e alternativas comunicacionais são algumas das ações realizadas nessa área de intervenção da Educomunicação, ao meu ver.
Nós tínhamos o desafio de recuperar o contato com cerca de 120 profissionais que haviam realizado o curso em 2019 para coletar informações sobre a implementação de seus projetos educomunicativos e para oferecer ajuda. Digo “nós”, pois o trabalho de assessoria foi feito em parceria com duas colegas da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), Cristina Sabbo e Lúcia Henriques; e supervisionado pela equipe de gestão: Ismar Soares (ABPEducom), Irma Neves (SUCEN/CCD/SES), Claudemir Edson Viana (NCE/ECA/USP) e Jurema Brasil (ABPEducom).
Nosso primeiro objetivo específico era formar uma rede de Interlocutores Educom.Saúde Regionais que nos ajudassem a manter um diálogo com os cursistas veteranos com o Projeto Educom.Saúde-SP. Para isso, destacamos 15 servidores/as da Sucen que haviam realizado o curso para comporem esse grupo. Ao longo do semestre, realizamos cinco reuniões virtuais visando alinhar o trabalho junto aos veteranos.
Para melhor interação com os interlocutores regionais adotamos o ambiente virtual Google Sala de Aula, além de e-mail e Whatsapp para diálogos pontuais. Neste ambiente, foi construída uma trilha organizada de trabalho, separando por tópicos os documentos e as propostas de diagnóstico, acompanhamento e reuniões. Mantivemos, ainda, um mural de compartilhamentos ativo, onde foram postados avisos, lembretes e novidades dos municípios. Produzimos tutoriais para ajudar os interlocutores a utilizarem a nova ferramenta (tour pelo ambiente e como devolver atividades).
A todo momento os Interlocutores Educom.Saúde Regionais eram convidados a planejar e executar as ações junto à equipe de assessoria e correspondiam ao chamado. Avaliamos que, ao final do semestre, contávamos com uma equipe sólida que, de modo geral, compreendia a educomunicação enquanto uma tecnologia social a serviço da mobilização das comunidades locais no controle das arboviroses urbanas, se engajando - na medida do possível, dentro de cada contexto - no resgate de cursistas veteranos. No mural do Padlet abaixo é possível apreciar as reflexões e propostas para 2021 elaboradas pelos interlocutores em dezembro de 2020.
Visando concretizar o objetivo específico de oferecer assessoria educomunicativa aos projetos em desenvolvimento nos espaços dos municípios, promovemos duas rodadas de reuniões virtuais. A primeira foi individualizada com os cursistas de cada uma das regionais da Sucen distribuídas por todo estado de São Paulo, a fim de proporcionar uma aproximação dos veteranos e ainda permitir ouvir com detalhes a situação de cada projeto, evidenciando a disponibilidade da equipe de assessoria e dando ideias no momento dos encontros. Nessas dez reuniões, foi possível conversar com 42 cursistas veteranos de 25 municípios. Entendendo que os desafios impostos pela pandemia estavam dificultando a implementação dos planos, elaboramos uma curadoria de recursos digitais para ajudar os veteranos a utilizarem estratégias que não requeressem presencialidade nas suas ações. O documento está disponível neste link.
A segunda rodada caracterizou-se por um plantão de assessoria, que aconteceu em duas manhãs. Ele foi aberto para adesão voluntária daqueles cursistas veteranos que desejassem discutir a avaliação de seus projetos. Duas semanas antes do encontro, foi disponibilizado um material sobre um modelo de avaliação para assessorar os municípios nesta tarefa.
Com o canal aberto, os veteranos foram incentivados a buscarem a equipe de assessoria ao longo do semestre. Consideramos o objetivo cumprido, levando em conta que as assessorias foram oferecidas, porém deixamos sinalizada a necessidade de adotar novas estratégias para o exercício de 2021, visto que foram poucos os municípios que aproveitaram a oportunidade.
Para dar conta de levantar informações dos resultados dos projetos dos veteranos e publicizar para comunidade envolvida no projeto Educom.Saúde-SP, construímos dois questionários - em parceria com o professor da ECA/USP, Marciel Consani. O primeiro teve o objetivo de realizar um diagnóstico sobre o andamento dos projetos propostos durante o curso em 2019. O instrumento foi aplicado em julho de 2020 e obteve 34 respostas. A partir deste material evidenciamos que a maioria dos projetos encontrava-se paralisada por conta da pandemia.
O segundo questionário, aplicado em outubro de 2020, foi construído coletivamente com os interlocutores regionais, tendo recebido respostas de 58 cursistas veteranos. Acreditamos que a maior adesão se deu pela apropriação da estratégia pelos interlocutores regionais, que participaram de um pré-teste e validação do formulário. O objetivo desta segunda consulta era atualizar os dados registrados de perfil dos cursistas veteranos e avaliar a eficácia do curso oferecido em 2019. Dessa vez, as informações colhidas foram voltadas ao atitudinal e nem tanto sobre os projetos. Os questionários foram importantes instrumentos para coleta de resultados, no entanto, foram interpretados por alguns veteranos como um meio de pressão e cobrança. Assim, avaliamos que era preciso repensar o uso dessa estratégia para 2021.
Por fim, para organizar pontes de troca entre veteranos e cursistas, foi produzido um webinar de compartilhamento de experiências dos veteranos com os atuais cursistas. Foram convidadas seis pessoas dos seguintes municípios: Bertioga, Catanduva, Teodoro Sampaio, São José do Rio Preto, Limeira e Lins. O webinar foi bem avaliado pela equipe do Educom.Saúde e gerou uma percepção de maior engajamento entre os cursistas veteranos. Se você quiser conferir:
Além disso, produzimos um texto para que os cursistas do Curso Educom de 2020 pudessem observar os resultados parciais da implementação dos projetos. Neste texto destacamos os projetos de Praia Grande e Presidente Epitácio, distrito de Campinal, que foram desenvolvidos a partir da parceria com a equipe de assessoria. Ele foi publicado no ambiente virtual de aprendizagem do curso.
Sem dúvida, realizar o resgate do contato com os cursistas veteranos do Educom.Saúde-SP seis meses depois do término do curso, em meio à pandemia de Covid-19, com o processo de extinção da instituição da Sucen em curso e ainda percorrendo todo o período de eleições municipais foi absolutamente desafiador. Muitos servidores foram encontrados desmotivados, com acúmulo de trabalho, desvio de função, falta de infraestrutura para atuação e ainda impedidos de utilizar as redes sociais oficiais dos municípios, devido a restrição da lei eleitoral prescrita para este momento.
Apesar do contexto difícil, os resultados alcançados foram expressivos. Percebemos que o trabalho de assessoria motivou e auxiliou alguns veteranos a re-planejarem seus projetos e colocarem alguma ação em prática ainda em 2020, mesmo com todas as restrições e dificuldades anteriormente apontadas. Foi formada uma rede colaborativa de interlocutores Educom.Saúde Regionais que percebeu o seu papel de relevância nesta interlocução com os profissionais municipais e mostrou-se disposta a continuar colaborando em 2021.
Também foram levantados dados importantes para que a equipe de gestão possa avaliar a eficiência e eficácia do curso. De acordo com as colegas da Sucen, a assessoria foi fundamental para consolidar a área de educação e comunicação em saúde e mobilização social com os aportes educomunicativos para o programa de arboviroses, podendo inclusive contribuir com outras temáticas que envolvem outros contextos regionais e locais voltados à saúde.
Eu, pessoalmente, aprendi muito nesses seis meses de atuação no projeto Educom.Saúde-SP. As trocas com profissionais da saúde me mostraram a importância da escuta ativa para um diálogo real.
Em 2021, a assessoria a projetos educomunicativos em desenvolvimento continua com a parceira educomunicadora Janaina Gallo.