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Legado freireano: o visionário de uma educação pautada na comunicação, com vista à reflexão e à mobilização

Legado freireano: o visionário de uma educação pautada na comunicação, com vista à reflexão e à mobilização
Suéller Costa
out. 7 - 8 min de leitura
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Um nome, uma história, um legado! Paulo Freire, o Patrono da Educação Brasileira, permanece entre nós! Se estivesse vivo, o educador e filósofo brasileiro completaria 100 anos no dia 19 de setembro de 2021. Nasceu em Recife, em Pernambuco, em 1921, e tornou-se um dos autores mais notáveis e referenciados mundialmente, com direito a prêmios de universidades nacionais e internacionais. Freire faleceu em 2 de maio de 1997, vítima de um ataque cardíaco. Seu corpo se foi, mas sua essência é inapagável, e digamos, inabalável, uma vez que revolucionou a Educação.

Permanece em nossos pensamentos, idealizações, práticas e reflexões sobre a escola que queremos, o futuro que desejamos e a trajetória que almejamos para uma nação. Suas metodologias permanecem nas práticas de alfabetização; seu pensamento dialógico nas experiências com vistas à mobilização; seus ideais emancipadores na construção de uma sociedade em contínua transformação; e suas atividades revolucionárias no combate à opressão e doutrinação.

         Alguns dos trabalhadores alfabetizados pelo método Paulo Freire em                                                             Angicos,  Rio Grande do Norte

Para a Educomunicação, seus pensamentos agregam a base epistemológica deste campo. Ao longo de seus estudos, Freire sempre considerou os meios de comunicação e tecnológicos favoráveis à Educação, considerando-os potentes para um aprendizado voltado ao pensamento crítico, criativo e reflexivo. Afirma que a “educação é comunicação”, ou seja, é diálogo. E não simplesmente “a transferência do saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores, que buscam a significação dos significados”. Seres pensantes, e, por sua vez, críticos, e, portanto, cívicos e mobilizadores.

Defende a educação libertadora, pauta-se no ensinar para emancipar, na busca por intervenções que ajudem educandos a conhecerem o mundo à sua volta e estejam aptos a mudar as realidades conforme as necessidades. Este novo viés ao processo de ensino e aprendizagem sustenta uma de suas frases mais célebres: “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”.

        Defendia uma educação libertadora, no ensinar para emancipar, ou seja, no                incentivo aos estudantes a promover intervenções no meio à sua volta

Para isto, clama por uma educação horizontal, pautada na dialogicidade, na transversalidade, na solidariedade, ou seja, colaborativa e comunicativa, com o compartilhamento dos saberes, respeitando o repertório de todos, e ampliando-o com a multiplicidade dos saberes que permeiam as práticas educativas. Uma vez que “não existe saber mais ou saber menos, existem saberes diferentes” e “os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Aprendemos com o outro, a comunidade, a sociedade e o mundo à nossa volta. E, principalmente, ao ensinar e ao aprender. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Algo que ficou ainda mais nítido em tempos de pandemia, com a inovação da educação, em que alunos e professores semearam seus conhecimentos em tecnologia (dentre tantos outros), para entender os novos fluxos comunicativos essenciais para as novas dinâmicas educativas.

Freire, aliás, era um visionário neste quesito. Para se ter uma ideia, nos anos 1980, foi um dos pioneiros a expandir a tecnologia nos âmbitos educativos, quando implantou as primeiras salas de informática nas escolas públicas de São Paulo, na época em que era secretário municipal de Educação. Desde sempre, acreditava no potencial desses recursos, sobretudo os midiáticos, para fortalecer a leitura de mundo e a conscientização sobre esse universo, e, em especial, ampliar as vozes entre os estudantes e legitimar o direito à expressão. E, por sua vez, promover a comunicação como forma de dialogar sobre temas de interesse local e geral, com viés mobilizador e com foco na identificação, reflexão e resolução de problemas, em prol de mudanças, de fato, significativas aos sujeitos envolvidos.

      Freire reconhecia, desde sempre, o potencial dos recursos midiáticos e                                                          tecnológicos à Educação

Afinal, como dizia o nosso mestre, “a realidade precisa ser reinventada a cada dia”! E assim tem sido para aqueles que, inspirados pelo espírito emancipador, se veem na obrigação de semear uma educação atrelada à conscientização política, não no sentido doutrinador - como conservadores imaginam -, e sim, no quesito revolucionário, para combater as injúrias sociais, defender a igualdade, equidade e os direitos humanos, e, acima de tudo, o respeito às diferenças, às culturas, às histórias de um povo e à essência de uma nação, a fim de entender que vivemos em uma sociedade plural.

“Educar e aprender são um ato político”. Mais do que isto, “é um ato de amor, por isso exige coragem. Não pode temer o debate, a análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. A escola é considerada um espaço de formação de pessoas que questionem e construam dialogicamente. Um local de mobilização para o pensar, o agir e o refletir temas de abrangência social, que, articulados junto aos saberes científicos, ganham dimensão, em prol de intervenções emergentes para uma sociedade para todos, e uma educação, de fato, democrática.

Que continuemos criando possibilidades para a construção e produção de conhecimentos entre nossos educandos, para que eles estejam aptos não apenas a decodificar as palavras, mas a ler a vida e tudo aquilo que faz a diferença para transformá-la! Isso porque a “pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e do seu papel. Recusa a acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.

                    “Educar é um ato de amor, por isso exige coragem", dizia Freire

Os tempos são sombrios, mas temos de ter esperança, e do verbo esperançar, que significa “ir atrás, se juntar, não desistir”. Na visão de nosso patrono, significa “a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída”. Urgentemente, temos de esperançar! “E, num país como o Brasil, manter a esperança viva já é um ato revolucionário”. Esperancemos por uma educação humanizada, e, sobretudo, dinâmica, inovadora, disruptiva e emancipadora. Juntos, nossos atos ganham amplitude, nossos ideais consistência e as nossas ações legitimidade.

Um viva a Paulo Freire!

 

Suéller Costa

Jornalista, professora, educomunicadora e pesquisadora. Mestre em Ciências da Comunicação, na Área de Concentração “Interfaces Sociais da Comunicação”, na Linha de Pesquisa “Comunicação e Educação”, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Estudos da Linguagem pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em Educomunicação - Educação, Comunicação e Mídias pela ECA/USP, Tecnologias na Aprendizagem pelo Senac-SP. Bacharel em Jornalismo e licenciada em Letras (Português e Inglês) e Pedagogia. Atua na interface, como jornalista, com produção de conteúdos editoriais e acadêmicos voltados à Educação; professora na Educação Básica e em cursos de extensão e formações continuadas a educadores; além de pesquisadora nos dois campos. Experiências que se aglutinam na práxis educomunicativa, atuando, sobretudo, como mobilizadora de projetos realizados sob a perspectiva da Educomunicação. Idealizadora do projeto Educom Alto Tietê.

Redes sociais: @educomaltotiete; @suellercosta

Contato: educomaltotiete@gmail.com; sueller.costa@gmail.com


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