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O processo de ensino-aprendizagem inclusivo e a Política Nacional de Educação Especial

O processo de ensino-aprendizagem inclusivo e a Política Nacional de Educação Especial
Henrique Uyeda do Amaral
fev. 28 - 6 min de leitura
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Um dos temas que gosto de trazer em meus textos é a educação inclusiva. Dou uma importância gigantesca ao abordar este tópico, pois vejo que poucos professores e professoras se sentem à vontade quando precisam ensinar para estudantes com deficiência.

A Política Nacional de Educação Especial estabelece o direito de todas as crianças a serem acolhidas pelo ensino básico comum, independente das suas deficiências (física, intelectual, sensorial) ou necessidades especiais de aprendizagem. É importante que todo o corpo docente esteja preparado para atuar nesta situação.

Neste texto, trago algumas reflexões sobre o impacto da deficiência no funcionamento do cérebro e sobre o processo de ensino-aprendizagem inclusivo, além de explicar a Política Nacional de Educação Especial.

 

A deficiência não limita as funções neurológicas

Recentemente, li um artigo do neurologista Oliver Sacks, autor de famosos livros sobre análise neurológica de pacientes com deficiência, como o “Vendo vozes” que fala sobre sua experiência com casos de pacientes surdos. O texto lido chama-se “O olho da mente”, publicado em 2007 na revista Mentecérebro, da editora Duetto.

O ser humano utiliza a visão como o principal sentido para a sua interpretação do mundo, como forma de memorizar e de organizar pensamentos. Quando a pessoa torna-se cega (por motivos do olho, não neurológicos), o cérebro não perde sua capacidade de cognição, podendo manifestar este potencial ampliando a capacidade sensorial de outros sentidos, como a audição, ou desenvolvendo formas mentais de substituir a visão.

O texto de Oliver Sacks traz relatos reais de pessoas que perderam a visão, analisadas sob a ótica da neurologia. Fica claro em seu artigo que o cérebro possui inicialmente um padrão de funcionamento, porém quando ocorre a perda da visão a resposta não é similar em todos os casos

Há casos em que a área do cérebro que comandava o funcionamento da visão passa a se dedicar a outros sentidos, fortalecendo a capacidade de interpretação sensorial destes.

Há outros casos em que a pessoa cega mantém uma capacidade de visão imaginária, que contribui para a percepção do mundo à sua volta, inclusive permitindo a construção de imagens mentais que vão além da capacidade dos olhos comuns.

A limitação de aprendizagem de pessoas com deficiência não é por uma questão neurológica de desenvolvimento do cérebro. Talvez o principal fator limitante é a dificuldade em realizar as atividades em uma sociedade baseada na “normalidade”, na qual os espaços, atividades, trabalhos, educação não são pensadas para incluir naturalmente pessoas “diferentes”.

Por isso, as tantas necessidades de adaptação de locais e processos para incluir pessoas com deficiência. Sem mencionar o preconceito que inferioriza esta parcela da população.

 

O que é mais importante na educação inclusiva: o espaço ou o processo de ensino-aprendizagem?

Vejo o espaço educativo totalmente relacionado com o processo pedagógico, não apenas no contexto da escolarização dos estudantes com deficiência. Uma prática educativa realizada em uma praça, será diferente de outra realizada em uma sala de aula com cadeiras enfileiradas, será diferente em uma escola com diversidade étnica-racial e socioeconômica entre os alunos em relação a uma de classe alta que separe meninos e meninas.

Existe um aspecto individual, especialmente entre os alunos com deficiência, dada a diversidade de formas de socialização e de aprendizagem. A discussão sobre a personalização do ensino em sala de aula deve se expandir e dar atenção especial à educação inclusiva. Cada estudante é diferente na forma de aprender, nas facilidade e dificuldades, na relação com o grupo e com os diversos professores e professoras.

Na educação inclusiva é importante pensar no local, tanto o espaço físico onde acontece o ensino que deve estar adaptado para as necessidades dos alunos com deficiência, quanto no espaço de socialização que é essencial para a inclusão (que não depende apenas da participação) no ensino “regular” com o apoio suplementar específico.

Os processos de ensinar e aprender são essenciais para garantir que os estudantes com deficiência e outros com dificuldade de aprendizagem consigam acompanhar as aulas e avançar na sua escolarização. É indispensável olhar os alunos como indivíduos, sem procurar uma solução que atenda a todos de maneira igual, a escola deve entender as necessidades de cada estudante, sem subestimar suas capacidades de aprendizagem e de autonomia.

 

Um pouco sobre a Política Nacional de Educação Especial

O público-alvo abrangido pela política de Educação Especial são pessoas com deficiência (física, intelectual, sensorial), transtorno do espectro do autismo e altas habilidades ou superdotação. O atendimento previsto acontece de duas formas: no ensino dito comum, realizado pelas escolas de ensino básico, que deve acolher todas as crianças; e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), exclusivo para o público-alvo citado anteriormente.

O AEE tem caráter suplementar ou complementar e deve ser articulado com o ensino comum, ocorrendo no contraturno em centros especializados ou na própria escola, preferencialmente em uma Sala de Recursos Multifuncionais. O profissional responsável pela mediação destas atividades deve ser especialista em Educação Especial.

Para facilitar o acesso ao conhecimento, os professores do ensino comum e, principalmente, do AEE devem pensar nas especificidades de cada estudante, considerando seu contexto de deficiência, espaços, ferramentas disponíveis, personalidade, dificuldades de aprendizagem, etc. Assim, não é possível pensar em uma solução que atenda igualmente a todos os alunos com deficiência.

Leia outros textos sobre o tema:

 

Este texto foi publicado originalmente no blog da Layers Education

 


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