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Produção de propagandas políticas como atividade interdisciplinar na escola

Produção de propagandas políticas como atividade interdisciplinar na escola
Heron Ledon Pereira
ago. 26 - 8 min de leitura
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Colégio Certus - São Paulo (SP)
Professores Camila Antunes Tavolaro, Eduardo Arena e Heron Ledon Pereira

A correria do dia a dia e o trabalho remoto na pandemia, em 2020, fizeram com que situações teoricamente mais óbvias passassem despercebidas. E graças aos estudantes isso não aconteceu.

No segundo semestre, nós, Camila, Eduardo e Heron, estávamos trabalhando com nossas duas turmas do 3º Médio questões relativas aos anos de 1930 e 40, em Arte, História e Língua Portuguesa, respectivamente. Assim, abordamos Arte Moderna, 2ª geração dos escritores modernistas brasileiros e regimes autoritários europeus e brasileiros, como a Era Vargas. Automaticamente, ao tratar de quaisquer desses assuntos, é muito difícil não citar todos os demais. No entanto, por conta do afastamento, não havíamos percebido que estávamos no mesmo contexto histórico com os estudantes.

Até que em um dia eles comentaram: “Ué, a gente está vendo sobre isso nas outras aulas”. E, então, veio a ideia de conversarmos e fazermos uma convergência de nossos trabalhos.

Dessa forma, seguimos mais alguns dias de aula, entre agosto e setembro, aprofundando o tema. Em Língua Portuguesa, não só falamos dos autores e textos literários da época, como também expandimos para uma questão mais midiática. Vimos, então, sobre o uso político que Getúlio Vargas fez da publicidade, do rádio e do samba, o “embranquecendo”. Foram aulas muito divertidas e afetivas - ainda mais diante de todo o desgaste do ensino remoto e situação social -, em que escutamos e analisamos músicas como “Aquarela do Brasil” e “Delegado Chico Palha”, e também discutimos trechos de animações como “Alô, Amigos” (1942), em que há a clássica cena de o Zé Carioca apresentando “o Brasil” ao Pato Donald. Os estudantes adoraram! Vimos ainda o documentário “Arquitetura da Destruição” (1989), sobre o uso da arte por Hitler, entre outras coisas, e fizemos uma breve reflexão.

Durante as aulas de História, aprofundamos as discussões sobre a ascensão dos governos totalitários e como estes fizeram da propaganda uma plataforma de sustentação política. Analisamos várias peças publicitárias e outros materiais midiáticos utilizados por esses governos, discutindo não só suas intenções políticas, mas também as inovações que muitos destes materiais trouxeram para os meios de comunicação, como por exemplo, na cinematografia. E o que mais deixava os estudantes entusiasmados, foi justamente como os assuntos se relacionavam entre as disciplinas, como mencionado anteriormente,  dando muito mais significado ao conteúdo que estava sendo trabalhado.

Nas aulas de Arte, foi realizado um bate-papo em que os estudantes conseguiram se expressar sobre a manifestação artística cultural "Semana de Arte Moderna”, que ocorreu entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922. Assim, fizeram uma reflexão sobre o que poderia ser ou não ser Arte e “liberdade de expressão”, mostrando uma nova visão sobre a Arte, política e a publicidade criativa. Vimos também documentários, vídeos, obras, artistas que influenciaram nas vanguardas como futurismo, cubismo, surrealismo, entre outros, que impactaram as diversas modificações sociais, políticas e econômicas. Isso contribuiu para a nossa conexão, criatividade e interação entre as disciplinas trabalhadas nesse trabalho interdisciplinar - tanto aos professores quanto aos alunos.

 

Proposta do trabalho

Diante do que foi abordado e do contexto sociopolítico das eleições municipais, sobre as quais também discutimos, chegamos ao momento de exercer ainda mais a criatividade e criticidade. A proposta do trabalho interdisciplinar foi que, em grupos, os estudantes criassem movimentos/partidos políticos que defendessem uma causa de livre escolha (por mais absurda e consequentemente irônica que fosse), mas que partisse de um problema social real, e, então, produzissem uma propaganda sobre ela. Afinal, trabalhar com publicidade requer pesquisar e construir argumentos, os quais da mesma forma fazem parte dos “temidos” textos dissertativos-argumentativos dos vestibulares.

No início, os estudantes ficaram um pouco assustados com a proposta, dizendo ser complexa e trabalhosa demais. Mas, conforme eles se reuniam nas chamadas em grupos, ao longo de duas semanas, e as ideias foram surgindo, passaram a tomar gosto.

Aqui é importante pontuar que não fizemos previamente aulas de como produzir uma publicidade, uma arte, um vídeo, um spot de rádio e afins. As turmas, por estarem no último ano escolar, já tinham repertório suficiente para toda essa construção, pois atividades mais práticas e menos instrucionais como essa são constantes no Colégio Certus. Além do mais, todos eles são cidadãos que consomem publicidade diariamente, e a maioria já estava acompanhando as propagandas políticas, visto que estávamos a poucos dias de votar.

Fizemos pequenos ajustes na grade horária e juntamos as duas turmas para uma apresentação coletiva. Isso inicialmente gerou algum incômodo, devido a pequenas “rixas” entre ambas. No entanto, as ideias e campanhas foram tão incríveis que logo de cara encantaram a todos! Grupos de uma sala elogiando os de outra, e realmente criou-se um ambiente, ainda que virtual, muito afetivo, prazeroso e divertido! Divertido sim, porque as produções tiveram uma alta carga de ironia e sarcasmo, sobretudo contra o atual governo brasileiro e suas propostas e ações. Os estudantes desenvolveram as mais variadas peças publicitárias, como sites, vídeos de divulgação, spots, ilustrações, cartazes digitais, montagens virtuais, páginas de jornal… Realmente houve uma comunhão pelo propósito da discussão, crítica e criatividade. Foi muito significativo!

E, após as apresentações, se mostraram extremamente satisfeitos e orgulhosos pelo nível de discussão, reflexão e criação técnica. Inclusive, se emocionaram no sentido de que, para eles, foi um trabalho marcante no fim de suas trajetórias escolares, como um fechar com chave de ouro, segundo o que alguns relataram.

Com isso, para além de toda a questão social e afetiva, os estudantes puderam também concretizar a percepção da utilização de publicidade por partidos e candidatos historicamente, nos regimes ditatoriais brasileiros e europeus dos anos de 1930 e 1940 e nas eleições municipais de 2020. Sentiram na prática os poderes e impactos de uma publicidade na sociedade. E ainda viram como podem, enquanto cidadãos, influenciar positivamente um grupo social do qual fazem parte, propondo e lutando por melhorias.

 

Confira a seguir alguns dos trabalhos produzidos:

 

"O vídeo publicitário realizado foi um chamado para que o povo acorde! Usar a publicidade também no polo contrário foi o intuito. Para alerta." Por: Tássila Machado, Ester Viana, Matheus Jesus, Gabrielle Viana

 

"(...) Nosso projeto faz paralelo com a história política brasileira, o cenário atual, e por trás há uma crítica social. Escolhemos a implementação do Estado Totalitário baseada em uma ameaça comunista porque observa-se políticos influentes falando sobre isso e grande parte da população é manipulada. Afinal, quem nunca escutou a famosa frase 'Nossa bandeira não pode tornar-se vermelha'". Por: Kelly Lacerda, Raphaella Cristina e Caio Duarte.

 

O Expurgo: https://magnificexperience.wixsite.com/expurgo

"O programa "UMA NOITE DO FUTURO - O EXPURGO" tem como finalidade a adequação das condições de vida dos participantes que se submeterão à noite, fornecendo assim condições melhores de vida. NENHUM cidadão é obrigado a participar do evento, o estado continuará fornecendo assistência básica para aqueles que não desejam se submeter a esta noite." Por: Camille Moraes, Giovani Dutra, Laura Cariolin, Mariana Pereira, Nathalia Andreoli e Rebeca Aguiar.

 

 

Com ironia, obviamente: "Inspirados nas medidas tomadas do regime militar que foi uma medida de estratégica tomada em 1964, mantendo assim rédeas curtas em nossa sociedade, incentivando jovens e adolescentes ao estudo, buscando igualdade de raças, melhorando todos os tipos de recursos sociais básicos, apoiando ao exército para melhor segurança do país e por fim colocaremos o país entre as maiores potências do mundo." Por: Gabriel Gleydstone, Luan Henrique, Lucas Leite, Kayque de Oliveira, Gustavo Pilat, Matheus Santos e Théo Salomão.

 

Caso você queira conferir outros trabalhos e mais detalhes destes colocados aqui, acesse: https://drive.google.com/drive/u/1/folders/1w-o6Wx7JKFbt1A19pN1ll1ibEdgYGY8I


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