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Ric Videoaulas - de aluno para aluno: como um trabalho escolar se transformou numa iniciativa educomunicativa

Ric Videoaulas - de aluno para aluno: como um trabalho escolar se transformou numa iniciativa educomunicativa
Ricardo Thomé
set. 12 - 11 min de leitura
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De onde veio a ideia?          

Nas primeiras semanas de EaD em 2020, cursando o 2º ano do Ensino médio e ainda sem muita certeza do que viria a seguir, recebemos do professor de Geografia a tarefa de produzir um trabalho sobre o final da 2ª Guerra Mundial e suas repercussões no Brasil. Entre as opções de produção estava o vídeo, foi a que escolhi. Utilizei slides animados e um roteiro como base para a narração do trabalho. Era só um trabalho normal, nem valia nota, mas como sempre gostei de produzir vídeos e de falar em público, fiquei orgulhoso do resultado. Algumas semanas depois, nos foi proposta uma atividade muito semelhante, desta vez com maior ênfase na Guerra Fria, e o resultado foi tão satisfatório quanto.

Aproveitando a pandemia para me dedicar a projetos pessoais, decidi me arriscar e criar o canal de Youtube Ric Videoaulas, despretensiosamente, porém consciente de que poderia colher bons frutos com isso e ainda falando sobre um assunto pelo qual sou fascinado, que é História. Não seria, porém, uma novidade: desde o 6º ano organizo os estudos da minha matéria favorita (que é História) por meio de áudios, explicando o conteúdo para mim mesmo. A diferença é que agora a produção seria direcionada para um público-alvo: jovens, como eu, estudando para a escola. 

 

Aprendendo com as dificuldades 

De início, foram aqueles temas em vídeos narrados. Nas férias, veio a ideia de fazer os “cortes” (com inspiração nos podcasts por aí), de vídeos maiores, dividindo-os em vídeos menores, o que em termos de atrair público novo é altamente efetivo. Já em agosto, meu pai deu-me a sugestão de aparecer na câmera. Mas como seria isso? Nem equipamento eu tinha, mas dei uma chance. E deu certo! As pessoas gostaram e passou a ser uma coisa muito mais espontânea e dinâmica, ao invés da voz paulatina e séria da narração. De aniversário, no mês seguinte, ganhei um ring-light que ajudou muito, especialmente na parte de gravação, por melhorar a iluminação. Mas até então, eu também me virava…

(Vídeos mostrando a montagem de um apoio para celular improvisado: Parte 1 e Parte 2.)

E assim foi sendo feito: eu me baseava nos conteúdos aprendidos em aula e produzia slides, para gravar, juntar tudo, sincronizar áudios e editar. Para isso, não tinha nenhum super aplicativo de edição de vídeo. Deste então me valho de uma fusão de Power Point com Movie Maker, dois aplicativos básicos, que já vêm no computador, mas que dão conta das necessidades. 

E é importante que se diga: não tenho paixão pela edição de vídeo, ainda mais quando é para o mesmo dia. Não acho prazeroso passar 9 horas (já cheguei a isso, acreditem) num processo gravação-edição. E não, nem é porque não sou remunerado pelo YouTube, nem nada, mas sim porque isso automaticamente “mata” um dia de fim de semana meu, seja em termos de convivência familiar, seja no quesito descanso. 

Hoje, a minha edição é mais rápida por conta de algumas técnicas que eu fui aprendendo, como grava o vídeo todo de uma vez, não mais em trechos curtos, e salvar o vídeo duas vezes no Movie Maker porque o Ocam, aplicativo que grava a tela com som, trava o vídeo no Movie Maker. São macetes que passam totalmente despercebidos, mas que aceleram o processo de edição e diminuem um pouco do transtorno criado em casa no “dia de vídeo do Ricardo”, afinal, tenho 17 anos.

Veja o vídeo "Doutrinas Sociais do Século XIX", um dos mais visualizados do Canal e um dos meus favoritos pessoalmente:

 

Qual é a motivação, então?

Pois bem, se chega a ser tão exaustivo assim, qual é a minha motivação? Ora, posso não morrer de amores pela edição, mas quando tenho o produto final e fico orgulhoso do que produzi, é extremamente recompensador, mesmo que nem sempre isso aconteça (como sou bastante perfeccionista, uma vez gravei quase 20 minutos de vídeo e joguei fora porque não estava feliz com o resultado, optando então por voltar às origens e fazer narrado mesmo).

 

Além disso, é legal ter reconhecimento também: ver pessoas das mais diversas idades e partes do Brasil (e às vezes do mundo) dizendo que o meu vídeo ajudou-as em uma prova, que o conteúdo foi bem feito, etc, me deixa muito feliz. No ano passado comprei um curso de um jornalista que admiro muito, Bruno Formiga (TNT Sports) e, após alguns contatos, ele descobriu o Canal e fez até divulgação. Isso, vindo de uma inspiração profissional e de uma pessoa que foi muito legal comigo, serve sempre de motivação.

Assim, tudo isso até faz-me questionar se minha autocobrança não é exagerada - o vídeo mais visualizado do canal, um corte sobre a Corrida Armamentista (abaixo), foi um dos que eu pessoalmente não achei bom, até erro claro de edição tem. Mas o desempenho foi bom, e isso aconteceu com outros cortes também. Há, também, os casos opostos: vídeos de que eu adorei e cujo desempenho foi ruim. E assim vamos aprendendo.

 

 

E é claro: há vezes em que simplesmente não há motivação. Eu faço porque “tenho que fazer”, somente. É importante não fugir das responsabilidades. Então, sim, já gravei, editei, postei e assisti de mau humor, mais de uma vez (minha família que o diga!).

 

Intercâmbio aluno-aluno

Quando eu conto ou quando se conta sobre o Ric Videoaulas, muita gente quer saber sobre a inversão de papéis, adotando/simulando o papel de professor para comunicar-me com outros estudantes. Acredito que a identificação do público em ver alguém como eles falando sobre uma matéria tira um pouco do “ar professoral” que eventualmente as desagrada. A linguagem é mais leve e eu trato o conteúdo com leveza. Nem por isso, entretanto, “baixo o nível” de linguagem, respeito e compromisso, afinal, querendo ou não, eu tenho um objetivo claro: transmitir uma mensagem a ser absorvida.

Nesses últimos dias recebi um comentário inusitado, de uma menina que eu não conheço (e os comentários de desconhecidos são os mais gratificantes), elogiando justamente isso: “didática extrovertida mas ao mesmo tempo respeitosa”, ao contrário do que ela imaginara quando o professor dissera que seria um vídeo de alguém “da idade dela”. De todos os comentários que recebi, muitos elogiosos e incentivadores, esse com certeza foi um dos que eu mais gostei, pois foge ao padrão e toca num ponto ao qual eu dou muito valor mas a maioria parece não se importar tanto. 

Nas capas dos vídeos também tento "deixar a minha marca", mas sem fugir do foco principal.

 

A relação com os professores de História e o conteúdo

Contudo, é importante que se deixe claro que eu tomar para mim esse lugar de “professor” por alguns minutos não significa sob qualquer hipótese diminuir o trabalho que os professores de verdade têm, até porque, sem eles, eu não saberia nada do que eu sei ou às vezes até finjo saber nos vídeos, além do fato de que os meus professores são grandes inspirações para mim. Graças aos vídeos, passei a procurá-los mais e a tirar ainda mais dúvidas. 

Sempre fui participativo e de anotar bastante nas aulas de História, mas o Canal me trouxe uma responsabilidade maior: estar 100% atento às aulas para anotar tudo, incluindo as informações mais “inúteis”, mas que podem compor, senão um vídeo, um quadro, como o “Momento Aleatório” (inspiração no Momento Cultural de Reinaldo Azevedo), que trata de fatos históricos inusitados, engraçados e/ou interessantes, que não cairão em prova ou vestibular algum, mas que são isso: curiosidades. E o público em geral gostou.

Abaixo, o primeiro Momento Aleatório e o mais recente

 

 

Tomadas de decisão e escolhas de conteúdo

Logo de início, apesar de alguns pedidos, já estabeleci que não gostaria de focar em conteúdos específicos de vestibulares. Com isso já sabia que perderia ou deixaria de atrair algum público, mas estava dentro do planejamento, por mais que inevitavelmente eu falaria sobre conteúdos de vestibulares (na Fuvest 2021, foram quatro vídeos meus que “caíram”, contando primeira e segunda fase). 

Com exceção dos primeiros vídeos, não tive muitos critérios para escolher conteúdos, mas quando o tempo é curto recorro aos seguidores do Instagram do Canal, e promovo votações, com os temas que podem ser abordados nos próximos vídeos. Tenho minhas preferências, é claro, seja por gosto pessoal ou por saber que o vídeo será de mais simples e rápida realização, mas procuro seguir à risca o que é votado pelos seguidores.

 

A última vez em que isso aconteceu foi no período de provas finais da escola. Até então, quem sabia do meu Canal era o pessoal da minha turma e alguns colegas de outras salas, além de uns professores. Eu mesmo não quis divulgar de início. Aos poucos, porém, fui gostando, me sentindo mais seguro e confiante para divulgar. Chegadas as provas finais do ano passado, fiz três vídeos com temas que cairiam na prova e 77 slides com todo o conteúdo. Neste ano, foram seis vídeos e todo o conteúdo em 102 slides, os quais decidi divulgar para todos no 3º ano.

Resultado? Cerca de 30-40 inscritos e centenas de visualizações em um intervalo de três dias, com muitas pessoas me agradecendo pela ajuda na prova. E isso nos leva ao que já foi dito: a motivação. É gostoso ter reconhecimento, e acredito que a sensação de auto-realização vem muito disso também. Sou paulistano e quando vejo pessoas de Minas Gerais, Santa Catarina e de outros lugares do Brasil que nem conheço, vibro imensamente. 


Foram muitos slides e muito trabalho, mas valeu a pena!

 

E Educom com tudo isso?

Bem, a esta altura acho que a ligação com Educom é bem clara: o uso da comunicação (digital, no caso) para a difusão da Educação e promoção não só do conhecimento, pois este não me pertence, mas também da iniciativa de um estudante em falar do assunto e em se conectar com os demais. Portanto, chego à conclusão de que é possível pensar a Educação de maneira mais leve. Parte disso aprendi com meus próprios professores, e procuro passar para frente como posso. 

Portanto, o intercâmbio aluno-aluno não precisa ser uma obrigatoriedade, mas com certeza pode ser um ótimo auxílio complementar. O meu desempenho nas aulas e avaliações de História melhorou e fico feliz quando leio que contribuí para que o de mais alguém também evoluísse. 

Espero que tenham gostado!

-Link do Canal: youtube.com/ricvideoaulas

-Link do Instagram: https://www.instagram.com/ricvideoaulas/

 

 


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