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Storytelling na educação: o uso das múltiplas linguagens sob o viés educomunicativo

Storytelling na educação: o uso das múltiplas linguagens sob o viés educomunicativo
Suéller Costa
set. 23 - 13 min de leitura
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Os desafios enfrentados em tempos de pandemia foram inúmeros para os diversos setores da sociedade. No âmbito educacional, por sua vez, o espírito inventivo dos educadores mostrou que estes profissionais superaram as adversidades, e, em prol do aprendizado, enfrentaram as novas demandas, adquirindo conhecimentos, preparando-se para lidar com os novos requisitos e dominar os recursos que passaram a fazer parte da prática pedagógica. Os professores, em sua maioria, se dispuseram a inovar as estratégias para garantir o ensino em um dos momentos mais emblemáticos no cenário educativo: o educar em tempos de pandemia, tendo a tecnologia como uma das possibilidades para ajudá-los a mediar este percurso.

Como educomunicadora, atuando na interface da Comunicação e Educação, compartilho uma das experiências educomunicativas vivenciadas no período em que todos tiveram de submeter ao isolamento social, para conter a disseminação de um vírus, que, logo de início, mostrou a sua potência: o Covid-19. Um período em que todas as escolas brasileiras (cerca de 180 mil unidades) foram fechadas, exigindo um processo formativo totalmente diferenciado aos aproximadamente 48 milhões de estudantes do nível básico.

Relata uma fase em que a tecnologia pôde evidenciar suas potencialidades, sobretudo, na Educação, ganhando um espaço que há muito tempo se buscava pelos entusiastas da área. Ilustra uma das possibilidades registradas na Educação Básica quando o ensino passou por uma transformação. Trata-se de uma experiência realizada nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a qual demonstra que, apesar das dificuldades de adaptação no início do ensino remoto emergencial, que começou em março de 2020, os desafios foram superados pelos educadores num processo de invenção e experimentação para promover a contínua interação entre docente e discentes.  

 

Narrativa transmídia na dinâmica pedagógica

Compartilho com os leitores um projeto de autoria desta pesquisadora e que foi desenvolvido nas aulas língua inglesa com as turmas do 1º ao 5º ano,  em duas escolas públicas no interior de São Paulo: EM Celia Leonor Lopes Lunardini e EM Keisaburo Honda, ambas em Guararema. A proposta pedagógica fez uso do storytelling para enfocar o Covid-19. Intitulada “Coronavirus Around the World”, procurou esclarecer o problema, destacar as recomendações e enfatizar as formas de prevenção para que os educandos, da faixa etária de 6 a 11 anos, pudessem ajudar a combatê-lo. O vírus, sua disseminação pelo mundo, as formas de contágio, as precauções, os hábitos de higiene e as principais orientações guiaram as aulas. Em cada etapa, recursos foram utilizados, que, de forma interligada, permitiram a formação de uma narrativa transmídia, ressaltando a autoria, a participação, a colaboração e o trabalho em conjunto não só entre os alunos como também os familiares.

As tecnologias educacionais tiveram papel essencial em todo o projeto, cujas ações começaram na última semana de março, quando as aulas ainda eram presenciais, e continuaram por meio do ensino remoto, migrando para o modo virtual. Esta mudança exigiu a concepção de novas estratégias, e, desta vez, mediadas por plataformas acessíveis para a conclusão dos objetivos propostos.

A sequência didática aliou diferentes dispositivos comunicacionais – aplicativos, programas, softwares, plataformas, e, além de trabalhar a cultura digital e usufruir das potencialidades das tecnologias de informação e comunicação, colocou em ação conceitos educomunicativos, como a leitura crítica dos meios, a educação midiática, e, por sua vez, a produção autoral, o que ajudou a evidenciar o engajamento dos educandos e a concretização dos propósitos educativos.

Personagens que inspiraram a produção da história que norteou a narrativa transmídia:

Capa do e-book que registra a história contada, inicialmente, de forma oral (em sala), e, depois, remota (on-line). Publicação traz, na língua inglesa, orientações sobre o coronavírus:

 

Viés educomunicativo no percurso remoto

O projeto “Coronavirus Around the World” envolveu cerca de 150 alunos, que, ao estender aos seus familiares e a comunidade, ganhou uma maior amplitude. Foi desenvolvido entre os meses de abril a junho de 2020 e desencadeado ao longo de várias etapas. Começou na última semana de março daquele ano, no modo presencial, e, com a suspensão das aulas e o início imediato do ensino remoto, teve continuidade de forma digital. Foi uma ação multidisciplinar, que envolveu vários temas transversais, como saúde, cultura, criticidade, produção autoral, produção midiática, letramento digital, vocabulário e expressões na língua inglesa, dentre outros a serem detalhados nos tópicos seguintes.

O projeto foi idealizado ao longo de várias fases e se apropriou de diversas plataformas comunicativas para a sua viabilização. No entanto, independentemente desses suportes tecnológicos, a participação dos alunos e o incentivo das famílias que contribuíram para o sucesso das atividades. A proposta teve como objetivo ampliar o reportório linguístico dos alunos, explorando as orientações no idioma estrangeiro; além de trabalhar os aspectos multiculturais, ao acompanhar o avanço da pandemia pelos diversos países, como as pessoas estavam lidando com a doença e as medidas adotadas conforme os aspectos culturais. Para então promover a conscientização, com a produção de materiais ilustrativos sobre as orientações, precauções e mensagens de acolhimento.

Produções audiovisuais, fotografias, ilustrações estiveram entre os trabalhos, que, tendo como propósito estimular a autoria, e foram além, com a expansão da criticidade sobre a temática e a responsabilidade de disseminar informações preciosas à nossa comunidade. Toda a dinâmica foi articulada ao longo de oito etapas, que, de forma integrada, promoveram a conscientização de todos os envolvidos, dos alunos aos familiares; dos gestores aos moradores do entorno escolar; da escola envolvida às demais unidades da rede de ensino.

 

Desenvolvimento das ações presenciais e remotas

Primeiramente, foram realizadas videoaulas com o vocabulário referente ao Covid-19. Em seguida, os alunos produziram atividades para explorar este vocabulário e fizeram um desenho com uma frase de apoio para combater o vírus. Com base no conteúdo introdutório, a professora produziu o e-book “Coronavirus Around the World”, que traz uma história sobre o vírus, sua viagem pelo mundo, as formas de prevenção e orientações importantes acerca do Covid-19. A publicação é dividida em duas partes: “The Invisible Enemy” e “Let’s Win This Fight”. Ela foi escrita com base no repertório das crianças, tendo como personagem principal o vírus causador de tantas transformações na rotina escolar. Logo após a leitura, os alunos responderam a um quiz sobre a publicação.

Em uma outra etapa, a temática foi ampliada com uma nova videoaula sobre o vocabulário e a produção de quatro jogos on-line, cada um referente às expressões estudadas, que enfatizaram os seguintes aspectos: sintomas, prevenção, orientação e recomendações. Para finalizar, os alunos foram incentivados a escolher uma das frases estudadas ao longo de todo este processo e produziram vídeos. Falando em inglês, os estudantes compartilharam suas performances ressaltando os protocolos de higiene. Foi promovido uma campanha de conscientização. Os vídeos foram compartilhados entre as salas de aula, para engajar as turmas e ressaltar estes hábitos que sempre conduzirão nossas condutas.

Para encerrar o projeto “Coronavirus Around the World”, as famílias de todas as turmas foram convidadas a participar do vídeo “It’s Gonna Be Ok”. Juntos, em seus lares, produziram cartazes com a mensagem em inglês, com o objetivo de compartilhar boas energias, além de esperança e positividade, acreditando, que, independentemente das dificuldades, esta fase vai passar e “tudo ficará bem”. As imagens, junto aos desenhos produzidos pelos alunos no início das ações, foram unificadas para a produção do vídeo, que a professora produziu como forma de agradecer o apoio que tem recebido das famílias ao longo deste período.

Alunos produzem mensagens ilustradas para compartilhar boas energias uns com os outros:


Jogos on-line, criados pela educadora, destacaram os sintomas  e protocolos de higienização:

 

Conscientização de um problema de âmbito global

A parte principal, que é o conteúdo, seu debate, desdobramento, reflexão e percepção da realidade em discussão, e, principalmente, conscientização do cenário nacional e global, foi enaltecida e identificada nos alunos participantes. Ao final do processo, as crianças perceberam a necessidade de uma mudança atitudinal para a resolução de um problema. Notaram que, para transformar uma realidade, precisam começar as alterações, partindo delas. Não só os estudantes foram beneficiados pela proposta pedagógica como também os familiares, que se envolveram em todo o processo e, inclusive, o integraram participando, em conjunto com os filhos, de algumas etapas direcionadas especificamente a este trabalho cooperativo, conforme será descrito.

A cada desafio lançado, todos se engajavam para concluí-los, e, com a entrega das atividades, foi possível perceber a compreensão da proposta pedagógica, desde o conteúdo explorado e as tarefas aos quais foram condicionados às mensagens tanto com relação ao tema quanto a comportamentos atitudinais, comportamentais e socioemocionais. Também foi possível perceber que assimilaram as terminologias no idioma estrangeiro pertinentes ao assunto, por meio dos vídeos, que uniram oralidade e interpretação; e das produções escritas, repletas de frases em meio às ilustrações.

Além disso, eles compreenderam a gravidade e a complexidade do vírus, da sua amplitude no cenário global. Enalteceram, inclusive, a mensagem principal, semeada por todos os participantes (tanto os do Brasil quanto os estrangeiros): “Stay at Home”. No âmbito digital, os conhecimentos também podem ser enumerados, afinal, eles receberam orientações sobre os comandos dos games, a gravação dos vídeos, a produção dos cartazes, à autorização das imagens, porque o projeto envolvia uma campanha de conscientização com o propósito de divulgação tanto interna quanto externa à comunidade escolar.

As turmas produziram vídeos ilustrando e falando (em inglês) as medidas necessárias:

 

Relações com a Educomunicação

O projeto pedagógico, considerado um storytelling, envolveu diversos recursos, norteados por um fio condutor, que, em diferentes produções, enfocaram, de maneira integrada, um assunto em destaque: a pandemia do coronavirus. A integração das diferentes plataformas numa série de atividades propiciou uma narrativa transmídia, construindo um trabalho, segundo Jenkins (2009), pautado na colaboração e participação.

Os educandos, ao acompanhar as propostas da professora, como leitura do e-book, realização de quiz, jogos digitais, produção de cartazes, fotos e vídeos informativos e de uma campanha de mobilização – intermediados por recursos digitais e tradicionais -, foram os responsáveis pelas mensagens, articuladas por meio de diferentes linguagens, com um objetivo: o de promover a conscientização sobre os sintomas, protocolos de higienização, recomendações e orientações para ajudar no combate a um vírus invisível, que ainda gera incertezas e insegurança à população.

Várias áreas de intervenção podem ser identificadas no projeto, porém, destaco a mediação tecnológica e a gestão da comunicação como as principais. A proposta didática começou no ensino presencial, e, com a mudança para o sistema remoto, passou por uma readaptação. Foi uma maneira de introduzir o assunto para, então, partir para os demais trabalhos, envolvendo os recursos tecnológicos com uma intencionalidade educativa, e, acima de tudo, educomunicativo, a fim de se apropriar dos dispositivos para instigar a produção autoral.

Todo o trabalho precisou, ainda, ampliar os fluxos comunicativos entre o público envolvido, buscando as melhores plataformas para manter a sintonia e conexão entre todos, sendo o WhatsApp (mensagens e videoconferências), as aulas assíncronas (videoaulas gravadas) e síncronas (encontros pelo Google Meet) as possibilidades de uma contínua interação para o prosseguimento das orientações que ajudaram na realização de todos os trabalhos. Tais canais foram essenciais para consolidar uma gestão da comunicação, necessária para gerar os ecossistemas comunicativos pautados na integração, participação, dialogicidade e parceria entre os envolvidos numa proposta de cunho educativo.

Famílias produziram cartazes com a mensagem em língua inglesa, que significa “Tudo Vai Ficar Bem”, para serem compartilhados, a fim de promover uma mensagem de esperança:

 

Vídeo final de agradecimento à campanha "It's Gonna Be Okay":

Vídeo de apresentação do projeto "Coronavirus Around The World":

 

Suéller Costa

Jornalista, professora, educomunicadora e pesquisadora. Mestre em Ciências da Comunicação, na Área de Concentração “Interfaces Sociais da Comunicação”, na Linha de Pesquisa “Comunicação e Educação”, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Jornalismo e licenciada em Letras (Português e Inglês) e Pedagogia. Especialista em Estudos da Linguagem pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em Educomunicação - Educação, Comunicação e Mídias pela ECA/USP, Tecnologias na Aprendizagem pelo Senac-SP. Idealizadora do projeto Educom Alto Tietê. Redes sociais: @educomaltotiete; Contato: educomaltotiete@gmail.com; sueller.costa@gmail.com


 


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