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Formação educomunicativa na Rede municipal de São Paulo - promovendo a Educação Midiática durante a pandemia

Formação educomunicativa na Rede municipal de São Paulo - promovendo a Educação Midiática durante a pandemia
Gláucia Silva Bierwagen
set. 17 - 11 min de leitura
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Por Carlos Lima, Gláucia Silva Bierwagen

No início de 2020, embora já tivéssemos notícias e relatos da seriedade e perigos da pandemia do Covid 19 na China e na Europa, as redes de ensino brasileiras de forma inesperada em março, tiveram que fechar escolas, faculdades e universidades como forma de combater aglomerações, uma das principais formas de contágio do coronavírus. Dessa forma, foram propostas estratégias emergenciais para promover a comunicação, aulas e atividades pedagógicas, chamado de ensino remoto, com os mais de 47 milhões de estudantes em todas as etapas da educação básica brasileira – creche, educação infantil, ensino fundamental ciclos I e II, ensino médio e mais de 6 milhões de alunos no ensino superior (INEP, 2019; TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020). 

Dentre as estratégias usadas tivemos: a produção de materiais impressos enviados aos estudantes, produções de programas de aulas síncronas e assíncronas, lives transmitidas por televisões educativas e internet, uso de ambientes virtuais de aprendizagem como Google Classroom, Moodle, dentre outros; uso de recursos de comunicação síncronas como Google Meet, Zoom, Youtube para realização de aulas à distância e até mesmo a utilização de aplicativos como o Whatsapp para comunicação com famílias e estudantes.

Um grande desafio apontado por uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) é que os estudantes, já em situações desigualitárias de acesso a educação, não possuem/possuíam condições necessárias (equipamentos necessários para transmissão de dados, acesso a internet ou a TV digital) para acompanhar as atividades de ensino remoto durante o período de isolamento social. 

Neste cenário, os docentes tiveram que se adaptar rapidamente às práticas pedagógicas em modalidade de ensino remoto, com atividades híbridas, ou seja, uma educação na qual docentes/estudantes estão interligados em espaços e tempos diferentes, no processo de ensino e aprendizagem. Para isso, as redes públicas e privadas de ensino fizeram intenso trabalho de formação docente. Certamente, muitos sistemas de ensino tiveram mais dificuldades que outras.

A rede municipal de ensino de São Paulo mobilizou-se para realizar ações de formações continuadas docentes a fim de promover estratégias didáticas aos discentes. Contudo, vale ressaltar que tal rede possui uma longa trajetória da constituição de âmbitos pautados nos princípios educomunicativos de participação, democracia e emancipação de educadores e estudantes nos processos educativos. Desde 2001, a Lei Educom possibilita que as esferas administrativas possam aplicar tais princípios nas relações institucionais e formações docentes. 

A Educomunicação no município de São Paulo 

A política pública de Educomunicação na cidade de São Paulo é constituída pelo tripé: desenvolvimento de projeto, integração curricular e formação continuada de profissionais da educação. São os 3 elementos que garantem o pleno desenvolvimento das práticas que contribui para Educação Midiática com as crianças, adolescentes e adultos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

A formação educomunicativa na rede municipal de ensino de São Paulo tem início com a implantação do projeto Educom.Radio, em 2001, com a criação da Lei Educom. Essa lei foi fortalecida por meio do Programa nas Ondas do Rádio, Imprensa Jovem, Mais Educação (SÃO PAULO, 2004, 2009, 2014, 2016). Com essas legislações foi possível sistematizar a formação educomunicativa dos educadores, possibilitar a criação de de projetos educomunicativos e agência de notícias Imprensa Jovem nas escolas , incentivando o uso na produção de conteúdos midiáticos pelos estudantes (LIMA, 2020, 2020 et. al, 2021) (Marcos da política educomunicativa). Caso queira saber mais sobre o histórico da educomunicação no município de São Paulo, veja este artigo.

Com a bagagem a partir  experiência no desenvolvimento de projetos de Educomunicação, em especial o Imprensa Jovem, que já despontava no uso de recursos digitais, a transição das formações presenciais para online em formato EAD e a intenção de contribuir para formação docente com foco no aprimoramento do Ensino  Híbrido, iniciou-se um processo de adaptação de 15 cursos e a criação de encontros formativos de curta duração intituladas Aulões de Educomunicação.  

Cursos de Educomunicação 

O propósito dos cursos é formar educadores para o desenvolvimento de projetos educomunicativos nas escolas, ampliando seus conhecimentos sobre as linguagens da comunicação e aprofundando a reflexão sobre o papel da mídia na sociedade contemporânea, de maneira que teoria e prática sejam permanentemente alinhadas.

Durante a pandemia da COVID as formações educomunicativas foram desenvolvidas visando contribuir para educação remota emergencial e o ensino híbrido. Estas eram as urgências na formação dos profissionais da educação na Rede Municipal de Ensino da cidade de São Paulo.  Os cursos de Educomunicação foram realizados em EAD, com o objetivo de atender os protocolos de segurança da COVID instituídos na cidade de São Paulo. Os cursos têm duração média de 20 horas com 8 horas de atividades síncronas e 12 assíncronas.  Para viabilizar os cursos foram utilizadas as plataformas Google Classroom e Google Meet.  Foram oferecidos os cursos de produção audiovisual, linguagens e educação midiática, cinema negro, história em quadrinhos, leitura crítica da mídia, dentre outros. (Saiba Mais).

Cursos de estudantes mediadores dos ODS 

A criação de uma rede social de comunicação na comunidade escolar, tal como é entendida a Agência Imprensa Jovem de Notícias possibilita o acesso, a expressão comunicativa e o intercâmbio de conhecimento, favorecendo a gestão da comunicação, contribuindo, pela educomunicação, por meio da Alfabetização Midiática e Informacional (AMI), para que professores e estudantes possam atuar como agentes de transformação e mobilização de suas famílias e comunidades neste contexto de Pandemia Mundial. 

Para tal, no ano de 2020, foi realizado o curso Imprensa Jovem online – Estudante mediador dos ODS, desenvolvido pela equipe do Núcleo de Educomunicação da SME-SP, bem como de consultores da UNESCO no Brasil e especialistas convidados da rede e de organizações parceiras convidadas, visando formar 200 estudantes e professores a fim de os tornar aptos a produzir e divulgar conteúdo jornalístico pedagógico e informativo juntamente à comunidade escolar e vinculá-los nos meios de comunicação já incorporados na escola, tais como Blog, Redes Sociais, Canais de Vídeo, Jornais Escolares e Rádio Escolar (Saiba mais). 

Aulões de Educomunicação 

Os aulões de Educomunicação são espaços-tempo online (oficinas, discussões, etc.) abertos a todos e todas após inscrição desejarem idealizados por educadores e estudantes para oferecer estratégias e atividades de ensino e aprendizagem durante o período da pandemia da Covid 19. Desde o ano de 2020 até maio de 2021 mais de 15 mil pessoas se inscreveram nos aulões. No mês de abril 2719 pessoas responderam as avaliações dos aulões. 

As temáticas foram variadas, como, por exemplo: gamificação, história em quadrinhos, cinema brasileiro, negro e africano, fake news, dentre outros, conforme podemos observar na figura a seguir. 

          Figura 1: Aulões com temas diversificados

          Fonte: Lima, Bierwagen (2021).

Entre as abordagens de softwares e técnicas foram observados as seguintes:  edição de vídeo, slam, videoaula, stop motion, Google Classroom, roteiros de cinema, radioaula, podcast, produção audiovisual, Audacity, produção de filmes com celular, vídeos performáticos, animaker, criação de minicontos, criação de HQ, dentre outros, como podemos visualizar na figura a seguir. 

          Figura 2: Número de professores participantes do aulões de softwares e processos (técnicas)

           Fonte: Lima, Bierwagen (2021).

Entre esses participantes 86,7% (2358) consideraram os eventos ótimos, 12,3% (335) bom e 1% (26) regular conforme Figura 3.

          Figura 3: Qual sua opnião sobre o Aulão?

          Fonte: Lima, Bierwagen (2021). 

Em um nível de 1 a  10, os participantes identificaram que os aulões poderiam contribuir para o desenvolvimento de suas aulas, conforme o gráfico a seguir.

          Figura 4: Contribuição dos aulões para as práticas pedagógicas, em um nível de 1 a 10. 

          Fonte: Lima, Bierwagen (2021). 

Notamos que 93,8% dos participantes atribuíram altos valores, de 8 a 10 para a aplicação das temáticas nas salas de aula. Muitos educadores e educadoras parabenizaram os encontros, contudo alguns consideraram o tempo muito curto. No aulão de Cinema Africano, um docente expressou que a “temática era muito pertinente, e apresentou novas possibilidades para o  nosso fazer em sala de aula”. Outro docente comentou que gostou de entender a Desinfodemia durante o aulão dessa temática pois, “as diversas formas de inverdades lançadas na internet favoreceram a disseminação de informações confiáveis sobre o coronavírus”. 

Já outra professora destacou que o aulão do Documentário fotográfico a auxiliou na ampliação das possibilidades pedagógicas do uso e da produção de imagens, com a valorização do registo documental”. Um educador considerou relevante para sua prática a metodologia dialógica do curso de Leitura de Imagem. No aulão de Edição de Vídeos, uma participante destacou que apresentou “apontamentos importantes sobre aspectos que são pouco ou nunca percebidos no momento de planejamento das aulas com filmes ou vídeos”.

Uma participante ressaltou a importância da formação docente nestas temáticas dizendo: “Acredito que quanto mais temas como esses tivermos na rede, mais amplo será o desenvolvimento e crescimento cultural dos profissionais da educação. Conhecer outros mecanismos e manifestações culturais nos traz um oceano de possibilidades para que possamos transmitir e transformar conhecimento.” Para determinado professor o aulão de Produção de Filme foi uma descoberta de possibilidades, “na mistura de técnica e poesia”. 

Com essas experiências educomunicativas podemos identificar que algumas redes de ensino tiveram mais condições de oferecer suporte formativo para os docentes durante a suspensão das aulas. Entendemos que não foi um processo fácil para os envolvidos, pois demandou lidar com inúmeras incertezas, além daqueles que já apresentavam gargalos nos sistemas de ensino (infraestrutura, carreira profissional, etc.)

A rede municipal de São Paulo com a constituição de política pública educomunicativa durante um processo de pelo menos 20 anos, teve no período de 2020, a possibilidade de elaborar ações formativas como os aulões, adaptação de cursos online para educadores e o curso de mediadores dos ODS para estudantes e professores.

Referências 


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